Há dias, um amigo meu, chegado de Palma de Maiorca, trouxe-me uma foto de uma insólita obra de arte pública, uma enorme instalação que representa uma casa de pernas para o ar, um edifício que assenta na terra, pela chaminé meia espetada no chão.

Esta obra – diz-me o meu amigo da fotografia – ergue-se numa praça fronteira ao Museu de Arte Contemporânea de Palma de Maiorca, uma referência museológica do Arquipélago das Baleares, por sinal instalado num antigo baluarte militar que foi superiormente reabilitado para receber o museu.

Não julgo que a representação artística daquela casa de pernas para o ar seja uma interpretação escultórica dessa tendência para desvalorizar o património construído. Dizem-me e sei que, em Palma de Maiorca, um dos destinos de excelência do turismo náutico do Mediterrâneo, o imobiliário resiste a tal desvalorização e ainda bem.

Não tendo uma tal intencionalidade, a casa de pernas para o ar, que sobressai no largo fronteiro ao Museu de Arte Contemporânea de Palma, faz-nos reflectir sobre esta tendência, mais ou menos generalizada em certa procura de ocasião, que tenta adquirir o máximo de património construído pelo mínimo preço possível.

Aproveitando dificuldades pontuais de proprietários de imóveis que possam ter urgência e necessidade de vender património, tal procura chega a recusar preços que já são muito favoráveis e contrapõe valores muito mais baixos a pretexto das grandes dificuldades do tempo presente. 

Esta procura especializada em esmifrar os preços de certa oferta de  oportunidade, pode não ser tão inteligente como se julgará pois a desvalorização forçada contaminará todo o Mercado e não recuperará na proporção que os compradores de ocasião desejam na hora em que queiram vender o que estão a adquirir.

Esta realidade justifica perfeitamente a prudência que o Presidente do Banco Espírito Santo (BES), Dr. Ricardo Salgado, revela, quando, como fez ainda há pouco, admite outras soluções que não a penhora pura e simples dos bens imobiliários quando haja incumprimento por parte de quem contraiu empréstimo para aquisição de casa própria.

O Dr. Ricardo Salgado fala em transformar empréstimos para habitação de resgate difícil por contratos de arrendamento, admitindo inclusivamente a adopção de outras soluções como a aceitação de períodos de carência e até a renegociação dos juros da dívida em situações mais difíceis.

Eu, que há muito tenho vindo a defender soluções deste tipo, considero estas propostas adequadas, inteligentes e justas, reveladoras de uma lucidez que eu espero possa via a contagiar uma comissão oficial ad-hoc que estuda esta realidade e integra o Banco de Portugal, a banca portuguesa e representantes do Governo.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 18 de maio de 2012 no Sol

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