O fenómeno das dações de imóveis à conta do incumprimento das obrigações assumidas pela obtenção de crédito está a alastrar dos particulares para a promoção imobiliária numa tendência que há muito se adivinhava, também face à inabilidade e a ineficácia das soluções encontradas para escoar os stocks de casas assim acumulados.

As dações de imóveis para pagar dívidas por satisfazer ainda são maioritariamente provenientes dos particulares, ou seja, da classe média portuguesa que está a empobrecer no limite do esforço que a austeridade lhe impõe, mas nos municípios mais atingidos por esta realidade o grosso das dações já é da responsabilidade da promoção imobiliária.

Isto já não é apenas uma campainha de alarme. É uma real e ensurdecedora sinfonia, ou mesmo uma autêntica abertura de ópera a lançar sucessivos avisos à navegação para os perigos que inevitavelmente surgirão se não se souber travar, com inteligência, o fenómeno das dações (seja renegociando prazos, seja concedendo moratórias a quem deve, seja com outra solução) e se não se acelerar as urgentes medidas de dinamização do sector da Construção e do Imobiliário.

A adoção de medidas concretas de incentivo à Reabilitação Urbana e ao Arrendamento Urbano, como ainda há dias disse dois corpos siameses deste mercado, é cada vez mais urgente, tendo em vista a captação de investimentos para um dos raros comboios com destino ao crescimento em que ainda podemos embarcar. Eis uma ópera (obra) a levar rapidamente à cena para evitar outros dramas.  

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 02 de maio de 2012 no Diário Económico

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