Há pequenas notícias, pequenas notas de rodapé, que funcionam como verdadeiras tábuas da salvação da nossa esperança. Há dias, escondida nos recentes documentos de análise da nossa realidade económica que o Banco de Portugal regularmente produz, saltou para a notoriedade da comunicação social uma frase desejada referindo que no meio da “moderação salarial” poderá verificar-se “algum aumento dos salários do sector privado”.

Esta “esperança”, escondida no Boletim Económico de Inverno do Banco de Portugal, publicado há dias, ganha direito a entrar para alguns títulos de notícias, apesar do próprio BP referir, no mesmo documento, que “a manutenção de condições relativamente desfavoráveis no mercado de trabalho, que implicarão um quadro de moderação salarial, deverá também condicionar a evolução das remunerações no sector privado”.

O que é significativo na mediação para o grande público que os órgãos de comunicação social, uns mais especializados do que outros, fazem destas reflexões do Banco de Portugal é essa sentida necessidade de encontrar, por mais pequena que seja, a nota de esperança que, no fundo, ninguém quer realmente perder – um sinal de que as coisas podem mudar, para melhor, Como cantava Sérgio Godinho, “para melhor está bem, está bem, para pior já basta assim”.

Curiosamente, o Banco de Portugal é hoje uma das fontes mais regulares de reflexão sobre a nossa realidade produzindo e divulgando estudos sobre temas tão diversos como, por exemplo, um artigo sobre os sindicatos, a sindicalização e o prémio sindical, da autoria de Pedro Portugal e Hugo Vilares, que acompanha o Boletim Económico de Inverno já citado.

Neste artigo, baseado em informação prestada por 200 000 empresas, os autores debruçam-se sobre o número de trabalhadores sindicalizados em Portugal e sobre a influência da atividade sindical no mercado de trabalho português. Nele, mostra-se a forte erosão da representação sindical, que se fixará em 11% e será mais forte “nas empresas de maior dimensão, em empresas de capital público e em setores de atividade protegidos da concorrência”.

Sem entrar nas preocupações que devem mobilizar os trabalhadores e os seus representantes, reflito, como empresário, que esta realidade, num primeiro olhar aparentemente favorável a quem tem obrigação de gerir investimentos de capital no universo empresarial, também indicia uma resignação colectiva que a ninguém, nem aos empresários, nem à Economia, interessa. Os baixos salários que possam ser praticados pela fragilidade de quem trabalha por conta de outrem são uma tentação demasiadamente perigosa para qualquer tecido empresarial no Mundo em que vivemos.

O caminho que temos de trilhar não é esse. Não é o do permanente apertar do cinto, da austeridade sobre a austeridade, dos baixos salários que definham qualquer mercado interno. E nesta perspetiva, realçar aquela pequena e esperançosa boa notícia que fala na possibilidade de algum aumento dos salários, pelo menos do sector privado, acaba por ser um potencial bom serviço em defesa da nossa recuperação económica.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 16 de Dezembro de 2013 no Jornal i

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