Já escrevi nestas páginas que, a introdução das portagens virtuais nas estradas anteriormente classificadas como sem custos para o utilizador, iria ter o efeito devastador de uma qualquer bomba lançada contra uma praia ou contra uma mata nacional protegida. Como então disse, os turistas estrangeiros fogem a sete pés dos labirínticos procedimentos que precisam de cumprir para pagar as portagens virtuais das SCUT’s e o país, para ganhar uns tostões, perde alguns milhões. 

Hoje, volto a levantar as dúvidas que então formulei. Teremos, de facto, o direito de criar constrangimentos aos estrangeiros que nos visitam, seja a transportar mercadorias, seja em viagem de turismo, só para arrecadar uns quantos euros sabendo-se, como sabemos, que essa opção afasta muitos potenciais turistas do país com perdas muito maiores do que os montantes que estarão em causa?

E volto a responder com o mesmo não, constatando o facto de, infelizmente, ter razão avant la lettre. A decisão de portajar estradas com soluções de cobrança difíceis para não residentes transforma algumas das nossas fronteiras, seja na foz do Guadiana, em Vila Real de Santo António, seja a Norte, no Rio Minho, em muros fronteiriços verdadeiramente intransponíveis.

A recente quebra de turistas para a passagem de fim-de-ano a Sul, especialmente nas ofertas algarvias, ou a Norte, até ao Porto, prova, claramente, que isentar os estrangeiros do pagamento das SCUT’s é potencialmente mais rentável do que cobrar-lhes a passagem. O que deixam de pagar ficará seguramente na primeira estação de serviço em que parem para um simples café. 

Não fosse a situação trágica para a Economia portuguesa e poderíamos ensaiar algum esgar de graça eventualmente traduzido numa corruptela do velho ditado “vão-se os anéis mas fiquem os dedos”  como a que utilizei no título – vão-se os milhões mas ficam os tostões.

Neste como noutros casos que podem lançar perturbadores grãos de areia na engrenagem que gera o crescimento e o desenvolvimento económicos, é sempre bom que consigamos ver um pouco mais longe do que apenas para o quintal da nossa vivenda da periferia.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 07 de Janeiro de 2012 no Jornal de Notícias

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