Na Batalha de Ásculo (no território que é hoje a Itália), ocorrida há 2291 anos, os romanos vencidos perderam cerca de 6.000 homens e os vencedores contabilizaram 3.500 baixas, número tão elevado que o rei vencedor, Pirro, Rei do Épiro e da Macedónia, quando recebeu as honras pelo feito militar disse que outra vitória como a de Ásculo o derrotaria definitivamente.
A expressão, com quase dois mil e trezentos anos, ainda hoje é usada para sublinhar os custos exagerados de certas campanhas militares e, por analogia, outras, traduzindo sempre uma avaliação negativa do chamado binómio custo/benefício, avaliação que ganha variadíssimas formas, em função das tradições de cada lugar específico.
Entre nós, neste jardim do primeiro bairro ocidental da Europa, a versão pobre para a moral contida na expressão vitórias pírricas, é a que se retira dessa espécie de fábula que conta a história de um lavrador que começou a diminuir na ração que dava ao burro, esperançado que este acabasse por se habituar a não comer. Sabe-se que o animal morreu quando estava quase habituado ao jejum. Também é pírrico.
Pírricos, ou seja, de custos elevadíssimos, são também os resultados vitoriosos sobre o défice que temos vindo a alcançar, com muita austeridade, com tanta austeridade que as projecções de recessão estão a ser revistas em alta a cada revisão, acompanhadas de um preocupante aumento da taxa de desemprego, a bater, entre nós, todos os recordes.
As contas públicas estão no bom caminho, mas o remédio encontrado para este feito está a fazer derrapar a nossa Economia que decresce em vez de crescer e assim não gera a riqueza suficiente para todos nós e para o pagamento das dívidas que entretanto fomos contraindo num contexto económico quase sufocante.
Sem procura interna e sem uma previsão segura do aumento das exportações (por força da situação também difícil que atinge os nossos principais clientes), as perspectivas que se abrem à Economia portuguesa parecem ser muito semelhantes às que marcaram e ainda estão a marcar a Economia grega. Com a diferença que nós estamos a baixar o défice.
Que importa que o nosso défice baixe mais rapidamente do que aquilo que os nossos credores exigem se as desvantagens desta quebra precoce são muito maiores do que as supostas, mas ainda por identificar, vantagens que possamos obter deste regime de sacrifícios sobre sacrifícios?
O preço a pagar será muito mais elevado do que o preço (com juros) que teremos de pagar pelas dívidas contraídas, e pode mesmo inviabilizar estes nossos compromissos a prazo.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 09 de março de 2012 no Sol