Números redondos vivem, em Portugal, 10 milhões de pessoas. Se imaginarmos uma casa nova para cada um destes residents, seriam 10 milhões de fogos, quase tantos vão ser necessários construir no Brasil, até 2016, só para satisfazer a procura no Mercado residencial por parte da classe média popular.
São os números de uma empresa de consultadoria brasileira – a MB Associados – para as projeções de procura de casa por parte de quem aufere uma renda familiar de três a dez salários mínimos, o que, num câmbio grosseiro, tendo em conta o actual valor do sálario mínimo em São Paulo e no Rio, vai de 600 a 2000 euros..
Outra curiosidade desta notícia (que apanhei num jornal com este meu vício de não perder o hábito de ler jornais, esteja onde estiver) realçada por um economista da MB Associados, citado na local, diz que esta procura vai direccionar-se preferencialmente “para a compra de imóveis novos, dada a rápida expansão do crédito imobiliário”.
A potencial procura da classe C, a denominada classe média popular, é superior à soma das procuras de todas as restantes classes sociais, o que indicia uma potencial migração, para a classe C, de famílias da classe D e E, num quadro de continuidade do processo de crescimento económico e da redução da pobreza.
Prova-se, mais uma vez, que as democracias dos países desenvolvidos e dos países em desenvolvimento consolidam-se melhor, pelo acesso generalizado à propriedade imobiliária, e que, ter casa própria é um dos principais sinais exteriores do estatuto social das classes sociais que sustentam as democracias dos regimes de economia de mercado.
Um olhar atento sobre o sector da Construção e do Imobiliário pode revelar muito mais do que muitos ensaios políticos e económicos sobre o mesmo espaço geográfico. Às vezes, conhecer a percentagem que o crédito habitacional representa no PIB de determinado pais, para se ver o futuro. No Brasil, com a concessão de crédito a atingir recordes, tal percentagem foi de 3% em 2009.
Mas em países emergentes como o México foi de 9%, na China atingiu os 10%, no Chile 14, na Malásia 30 e na África do Sul 34%. Já agora, neste olhar cruzado sobre uma notícia de jornal recortada num diário do Brasil, lembro-me que a China recebeu os Jogos Olímpicos em 2008, que a África do Sul recebe este ano o Campeonato Mundial de Futebol, campeonato que depois segue para o Rio de Janeiro, dois anos antes dos Jogos Olímpicos de 2016 na Cidade Maravilhosa.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 16 de Abril de 2010 no Sol