Soube, há dias, por um amigo que assistiu a uma conversa sobre reabilitação urbana orientada pelo Eng. Rui Quelhas, um dos dois administradores com funções executivas da Sociedade de Reabilitação Urbana Porto Vivo, que um dos mais emblemáticos anúncios do comércio portuense está tão protegido que nem pode ser retirado da fachada do prédio onde vive, apesar de já nem existir o estabelecimento comercial para o qual nos remete.
Refiro-me ao anúncio que resiste, agora sob protecção, na fachada do edifício que faz gaveto entre as ruas de Mouzinho da Silveira e das Flores, bem de frente para a Estação de São Bento, aquele celebrado tríptico horizontal onde se declara, em letras de forma desenhadas a branco sobre fundos laranja e vermelho, que “vestir bem” “e barato” é ali (no caso “só aqui”, para citar com todo o rigor a última frase).
Passei, há dias por lá, para rever o emblemático prédio, um dos muitos que dão mais cor ao projecto de reabilitar o centro histórico do Porto, património da Humanidade, classificado pela UNESCO, e senti que aquele anúncio, em boa hora protegido e reavivado sem perda de identidade, no âmbito da reabilitação do próprio edifício, é um verdadeiro símbolo desse urgente desafio da reabilitação urbana dos grandes centros.
Há, nesta decisão de manter viva a memória das cidades com alma, um compromisso entre gerações que acresce, como uma mais-valia, às desejáveis e esperadas consequências de uma clara aposta da reabilitação dos centros urbanos no desenvolvimento económico do país e até na recuperação de algumas dezenas de milhares de postos de trabalho, alguns dos quais pouco qualificados, o que é, conjunturalmente, muito importante.
Temos de voltar a vestir bem os centros das nossas cidades, mesmo que não seja tão barato como proclamavam os exagerados dos publicitários, como se dizia no tempo em que aquele anúncio da fachada do prédio de gaveto aqui citado. Mas mais caro, muito mais caro, é deixar que as cidades fiquem desertas e decrépitas e que possam até perder a própria alma, na insensibilidade do abandono ou até de algumas falsas reabilitações.
Como dizia, há dias, o Eng. Fernando Santo, num seminário que a Associação de Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliário de Portugal (APEMIP) organizou em Lisboa, este projecto de reabilitação urbana é, nos tempos que correm, um dos raros comboios para o desenvolvimento onde ainda temos lugar. Não o podemos deixar fugir, em grande velocidade, pois dele muito depende a fileira da Construção e do Imobiliário e, consequentemente, o país.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 13 de Novembro de 2010 no Diário de Notícias