Com a saída do Governo, a seu pedido, do Eng Fernando Santo, que desempenhou, até ao penúltimo dia do ano passado, o cargo de secretário de Estado da Administração Patrimonial e Equipamentos do Ministério da Justiça, a equipa governamental perde um dos mais prestigiados independentes entre os que aceitaram integrar este Governo e, principalmente, um profundo conhecedor em muitas das áreas determinantes para qualquer estratégia de desenvolvimento.

Devo confessar que a escolha do Eng. Fernando Santo para integrar este Governo surpreendeu-me, bem como a muita gente, pela positiva. Este engenheiro, que foi durante anos bastonário da respectiva Ordem dos Engenheiros, era, como é, um técnico de elevadíssima competência e, o que não é de somenos, um político sem filiação partidária, alargando por isso o arco de sustentabilidade do próprio governo. Confesso também que estranhei que tivesse ficado pelo Ministério da Justiça.

Os meus olhos, pouco habituados às nuances dos posicionamentos políticos num xadrez de um Governo de coligação, viam o Eng Fernando Santo muito mais num Ministério das Obras Públicas e do Ordenamento Territorial, a tutelar um sector específico, do que a administrar o património de um ministério, como o da Justiça, mesmo considerando um potencial aumento de edifícios devolutos neste ministério.

Estou à vontade para refletir em voz alta sobre este tema, desde logo porque nunca o abordei com o Eng Fernando Santo, por quem nutro enorme consideração há muito tempo, num relacionamento muito cordial que se iniciou muito antes dele ter sido convidado a integrar o Governo. Sublinho este aspeto para justificar este meu reconhecimento público pelo trabalho e pela opinião tantas vezes expressa pelo Eng Fernando Santo em defesa do papel determinante que o imobiliário pode desempenhar no desenvolvimento do país.

Nestes anos em que o Eng. Fernando Santo integrou o Governo, citei-o várias vezes, nestas minhas reflexões, sem nunca o identificar, sublinhando o que ele referiu, num seminário organizado em Lisboa ainda no tempo do anterior Governo, quando disse que o projeto de reabilitação urbana é, nos tempos que correm, um dos raros comboios para o desenvolvimento onde ainda temos lugar. 

Uma reabilitação séria e profunda dos centros urbanos, volto a sublinhar, é uma ponte para novos pilares do mercado imobiliário português, nomeadamente no que respeita à dinamização do mercado de arrendamento urbano e também do imobiliário turístico, neste caso muito virado para a própria internacionalização do sector. Ainda sem a interiorização da ideia de reabilitação urbana, como algo de incontornável, vozes como as do Eng Fernando Santo são muito importantes ao país, especialmente no Governo.

É que é importante não esquecer que o mercado da reabilitação urbana em Portugal não só pode recuperar emprego para um vasto número de desempregados cujo regresso ao mercado de trabalho é problemático como pode gerar, só no segmento da habitação, um volume imediato de negócios de 28 mil milhões de euros, valor que, no ano de 2011, projetava-se a médio prazo nos 200 mil milhões de euros, segundo estudos fidedignos. 

 

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 06 de janeiro de 2014 no Jornal i

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